Epaço Pagão
 

 
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Um canto na rede voltado para assuntos de Wicca, Magia e Paganismo, mantido pelo carioca Leo da Luz. Abençoados sejam
 
 
   
 
segunda-feira, setembro 27, 2004
 
Crenças x Fatos

A idéia deste texto surgiu a partir da inacreditável reincidência do tema auto-iniciação. Nunca deixo de me surpreender ao ver como um conceito sem o mínimo embasamento lógico, semiológico ou ocultista consegue se sustentar e crescer dessa forma. Isso me remete a dois casos que valem a pena ser relatados:

- Há pouco mais de cinco anos o mundo foi tomado por uma discussão surreal: O novo milênio começava em janeiro de 2000 ou janeiro de 2001? Astrônomos, matemáticos e pessoas simplesmente sensatas tentaram de todas as formas explicar que o certo era 2001. Nem precisava tanto. Bastava pedir que a pessoa contasse até dez. Ninguém conta zero, um, dois, três... Zero é abstração. Não existe Ano Zero. Pelo calendário da Era Cristã, a dita cuja começou no Ano Um. O primeiro milênio terminou no fim do ano 1000. O segundo terminou no fim do ano 2000. Era lógica matemática das mais elementares. Ainda assim, bilhões de pessoas comemoraram a chegada do novo milênio em 31 de dezembro de 1999.

- Nos anos 80 a TV Manchete tinha um programa chamado Documento Especial, com reportagens longas sobre assuntos polêmicos - em geral sexo e fenômenos religiosos/paranormais. O programa deu atenção especial ao crescimento das igrejas evangélicas, com destaque para as fraudes da Universal. Certa vez, mostrou um homem humilde, portador do HIV. Ele foi até a IURD, contribuiu com o pouco dinheiro que tinha, participou de um culto e foi informado que estava curado. Confiante, aceitou o desafio do programa de fazer um novo teste, que, claro, deu positivo. O sujeito foi categórico: "Não acredito nisso. Eu estou curado pelo poder de Jesus." Menos de um ano depois foi tomar satisfações com Jesus pessoalmente.

Ok, mas o que esses casos tem a ver com o tema? Ambos são situações em que os mais diversos interesses (mercadológicos no primeiro e de puro desespero no segundo) motivam crenças que, embora desmentidas pelos fatos, mantém-se fortes. A chamada auto-iniciação é somente mais uma da série. É um conceito criado por escritores com o único e exclusivo intuito de vender livros, e encontra eco no fato de a demanda pela Wicca ter crescido numa proporção infinitamente maior que a expansão dos grupos e tradições sérios - especialmente nos EUA, de onde nós imitamos praticamente tudo o que não presta.

Gente, iniciação envolve quatro coisas: reconhecimento por um grupo (a menos importante), aquisição de conhecimento (representado pelo recebimento do Livro das Sombras da tradição), morte e renascimento e alinhamento dos canais de energia. As quatro coisas são impossíveis - repito, impossíveis - de serem feitas solitariamente.

Primeiro ponto: Quem, além do próprio, reconhece a iniciação de um auto-iniciado? Ele pode dizer que não precisa de reconhecimento, mas então por que usa um termo que implica reconhecimento?

Segundo ponto: Como você, sozinho, pode receber um conhecimento que não possui? Só sendo esquizofrênico e uma personalidade revelando mistérios à outra.

Terceiro: Como uma pessoa se submete a um processo de morte e renascimento sozinha? Ela já sabe que não corre riscos, não tem o impacto do psicodrama. Um vez, diante de um grupo do qual eu fazia parte, o MillenniuM perguntou quem ali acreditava em auto-iniciação. O Fábio (aliás, por onde andas, prezado?) respondeu que sim, e o MillenniuM fez com ele uma simulação que, embora não fosse exatamente o processo de morte e renascimento de nenhuma tradição em especial, era análogo. No fim, perguntou se ele ainda acreditava em auto-iniciação. Fábio respondeu que não, pois vira que era impossível uma pessoa passar por aquilo sabendo previamente como seria.

Quarto e último: O que Cunningham não diz (talvez não soubesse, pois não consta que ele alguma vez tivesse sido iniciado no que quer que fosse) é que a iniciação envolve um poderoso alinhamento de energias. Em Dançando com feiticeiras, Lois Bourne (integrante do coven de Gardner) fala da própria iniciação num grupo de Bruxaria Tradicional, descrevendo a intensidade do momento em que "o senhor e a senhora" abriram-lhe os canais. É isso que permite a um sacerdote controlar um Círculo com dezenas de pessoas e trazer para dentro de si a energia dos Deuses. Mas isso é algo que você só aprende um coven ou num Círculo, não num livro.

Mas e o aspecto de contato com os Deuses, apresentado pelos autores como único sentido da iniciação. Esse acontece na primeira vez que você evoca o nome Deles com emoção genuína para um feitiço ou esbat. Não é preciso ser um iniciado para ter esse contato, como não é preciso ser um iniciado para ser um bruxo. Aliás, alguns dos melhores que conheço não são.

Há uma analogia interessante. Eu pratico duas técnicas de cura. A primeira, cura prânica com cores, aprendi com Paulo Montano. Mas, se não tivesse um professor (tão bom) disponível, poderia aprender num bom livro, pois é uma técnica não-niciática. Requer aprendizado e prática para aperfeiçoamento. Um bruxo solitário ou um bruxo que, embora celebre em grupo, não passou por uma iniciação (meu caso) está na mesma situação. Ele aprende e pratica para fazer cada vez melhor aquilo que está ao seu alcance.

A outra técnica é o Reiki, que é uma prática iniciática. Minha iniciadora, Shaddya, abriu meus canais de energia. No instante seguinte o Reiki fluía de minhas mãos. Nenhum ritual de banca de revista seria capaz de operar aquela mudança em mim. Isso é uma iniciação. O resto é conversa para vender livros.

Mas então por que a auto-iniciação continua fazendo tanto sucesso - assim como os livros de Cunningham? Porque é o caminho mais fácil, mesmo que não leve a lugar nenhum. Hoje as pessoas querem tudo da forma mais rápida e menos trabalhosa possível. "A pressa é inimiga da perfeição" virou letra morta. Depois do Lava-a-Jato e do fast food, a Wicca expressa. Nesse cenário, experimente dizer para uma pessoa que ela pode ser bruxa sozinha sem nenhum problema, mas que, se quiser se uma iniciada, vai ter que: a) achar um grupo sério com sacerdotes realmente iniciados (talvez a parte mais difícil); b) ser aceita por este grupo e c) praticar durante pelo menos um ano solar... A pessoa vai te chamar de maluco. O negócio é pra ontem!

Mas o negócio não é pra ontem, não. Bruxaria a sério (iniciada ou não) dá trabalho, toma tempo e exige dedicação. Para quem deseja o caminho do sacerdócio, a iniciação é o pináculo da trajetória, não o começo, como tentam vender esses autores. O pior é que até hoje, só conheci um "auto-iniciado" que dizia não buscar a iniciação "formal". Ué, mas se a auto-iniciação é válida, para que outra? Pano, rápido...

Claro, cada pessoa tem o direito de acreditar no que quiser. Pode perfeitamente se auto-iniciar - e comemorar datas com um ano de antecedência, acreditar que Universal cura Aids etc. etc. etc.

sexta-feira, agosto 27, 2004
 
A famosa piada das lâmpadas

Quantas bruxas solitárias são necessárias para trocar uma lâmpada?
Uma.

Quantos gardnerianos são necessários para trocar uma lâmpada?
Esse é um segredo iniciático do Terceiro Grau.

Quantos alexandrinos são necessários para trocar uma lâmpada?
Depende. O que os gardnerianos disseram?

Quantas diânicas são necessárias para trocar uma lâmpada?
ISSO NÃO TEM GRAÇA!!!

Quantos druidas são necessários para trocar uma lâmpada?
501, um para trocar e os outros para alinhar as pedras

Quantos magos cerimoniais são necessários para trocar uma lâmpada?
Um. Ele segura a lâmpada e espera o mundo girar ao seu redor.

Quantos bruxos tradicionais são necessários para trocar uma lâmpada?
Se as velas eram o bastante para nossos ancestrais, vão servir para nós também.

Quantos pagãos são necessários para trocar uma lâmpada?
Seis. Um para trocar e cinco para reclamar que as lâmpadas não queimavam tanto antes desses malditos cristãos aparecerem.

Quantos ciganos são necessários para trocar uma lâmpada?
Depende. Trocar pelo quê?

Quantos seguidores de Buckland são necessários para trocar uma lâmpada?
Para a resposta, consulte o livro “A prática da troca de lâmpadas”, de Raymond Buckland...

Quantos esotéricos são necessários para trocar uma lâmpada?
(Numa voz beeeem suaaave) Nós não usamos lâmpadas. Nós energizamos nossos cristais e os olhamos brilhar...

Quantos thelemitas são necessários para trocar uma lâmpada?
93

Quantos xamãs são necessários para trocar uma lâmpada?
Nenhum. Eles mudam de forma para gato, morcego ou qualquer outro bicho que enxergue no escuro.

segunda-feira, maio 24, 2004
 
Lilith é pagã?

Quem freqüenta listas sobre paganismo volta e meia dá de cara com mensagens sobre Lilith, que parece exercer um fascínio sobre as adolescentes. Mas o que é ela? A melhor resposta que já encontrei – pelos motivos certos e errados – está no texto abaixo. Leiam e vejam meus comentários no pé.

TUDO QUE VOCÊ SEMPRE QUIS SABER SOBRE LILITH!

Por Judy Weinberg
(da primeira edição de LILITH Magazine, Outono de 1976)

Tradução de Leo da Luz
Clique aqui para ler o texto original em inglês.

Se pudéssemos confiar em todas informações rabínicas e cabalísticas disponíveis a respeito da suposta predecessora de Eva, Lilith, seríamos forçados a acreditar que ela é um "feroz espírito feminino", que, apesar de frígida seduz apaixonadamente os homens quando estes dormem, e que, apesar de estéril, mata cem de seus filhos demônios diariamente. Existem dúzias de tradições conflitantes a respeito de Lilith. Se vamos descobrir e estabelecer uma imagem significativa de Lilith, essas diferentes tradições devem ser desembaraçadas fio por fio. Ainda que a tarefa não seja possível nos limitados parâmetros desse artigo, vamos começar o trabalho.

A primeira versão da Criação que associa o nome Lilith à "primeira Eva" está incluída no Alfabeto de Ben-Sira, um trabalho escrito provavelmente no período Gaônico (de 600 a 1000 EA – N.do L. A autora usa a terminologia Era Atual como substituição a Depois de Cristo). Esse relato mistura duas tradições separadas e distintas – a Lilith do Talmud e a "primeira Eva" do midrash (lendas).

Lilith no Talmud: A personalidade chamada "Lilith" no Talmud não mostra qualquer conexão com Adão. Das quatro referências específicas a Lilith no Talmud Babilônico, descobrimos apenas que ela é uma criatura alada desgrenhada com tendências ninfomaníacas (Erubin 100b, Niddah 24b, Shabbat 151b); e a mãe dos demônios (Bava Batra 73a ).

Essa caracterização de Lilith deve ter sido retirada da única menção a lilit (N.do L. Com minúsculas mesmo) na Bíblia, em Isaías 34:14:

"Aí vão se encontrar o gato do mato e a hiena, o cabrito selvagem chamará seus companheiros; aí a lilit vai descansar encontrando um lugar de repouso." (N. do L Versão da Bíblia Católica)

Especialistas traduzem freqüentemente "lilit" como "monstro da noite", associando o nome com layil, a palavra hebraica para noite; por isso, o rabino Hanina proíbe os homens de dormirem sozinhos numa casa à noite, para não serem atacados por ela (Shabbat 151b). A palavra Acádia "lilitu", um espírito feminino do vento, me parece, entretanto, uma etimologia mais correta.

"Primeira Eva": As midrash (lendas) da Gênese rabínica discutem uma "primeira Eva", mas não mencionam Lilith. De acordo com o rabino Hiya, ela "retornou ao pó"(22:7). Judá, filho do rabino Hiya, afirma que no início Deus criou Eva de Adão, mas quando Adão a viu ser feita com tendões e sangue, ficou enojado e afastou-se dela. Com isso, Deus fez a primeira Eva retornar ao nada e criou a segunda Eva de Adão (18:4).

Duas criaturas separadas e distintas – Lilith do Talmud e a primeira Eva das midrash – uniram-se em uma, tornando-se Lilith, a primeira companheira de Adão. Podemos ver esse processo no próprio Alfabeto. No começo da narrativa, Lilith é caracterizada como uma mulher (ishah). No fim da estória, entretanto, seus filhos são chamados de demônios (sheydim) e ela própria tem poderes contra os quais só é possível se proteger com um amuleto. Assim, ao aproximar sua personagem da Lilith do Talmud, o autor teve que dar a ela as características atribuídas ao personagem naquele texto.

LILITH NA CABALA: As diversas e freqüentemente contraditórias versões encontradas em textos cabalísticos subseqüentes de diferentes períodos parecem intercalar referências esparsas de fontes judaicas anteriores com mitos posteriores pinçados de influências externas. A imagem de Lilith retratadas pela literatura cabalística medieval é complexa e maligna.

Vamos examinar primeiro os mitos cabalísticos da criação de Lilith. O relato do Alfabeto é a única versão na qual Lilith é um ser independente, criado de matéria semelhante à de Adão.

O Zohar (trabalho central do misticismo judaico) desenvolve a teoria de que Adão compreendia inicialmente os elementos masculinos e femininos. Isso se baseia na afirmação (tanto do Talmud quando das midrash) que "Adão, que foi o primeiro homem, tinha duas faces completas" (Brachot 61a, Erubin 18b). O rabino Samuel ben Nachman disse: "Quando Aquele Que É Sagrado, Abençoado seja, criou o primeiro homem, Ele o criou hermafrodita." O rabino Levi diz o mesmo:

"Quando o homem foi criado, ele foi criado com duas frentes do corpo, e Ele o serrou em dois, de forma que dois corpos restaram, um feminino e um masculino (Lev. Rab. 14:1)."

O Zohar retoma o tema da bissexualidade de Adão, mas agora traça uma conexão com Lilith:

A fêmea estava ligada ao lado do macho até que Deus a lançou num sono profundo... Deus então a serrou, separando-a dele, e a adornou como uma noiva e a levou até ele, como estava escrito, "E Ele tirou um de seus lados e o fechou o lugar com carne..." Encontrei uma afirmação num antigo livro que a palavra "um" aqui significa "uma mulher" para enfrentar a Lilith original, que esteve com ele e fora concebida dele. Àquela época, entretanto, ela não era uma ajuda para ele, como está escrito, "mas para Adão, não lhe era encontrado auxílio." (134b)

Outras referências no Zohar descrevem Lilith como uma competidora para "a fêmea afixada a seu lado" (III 19a, II 276b, I 19b).

Yalkut Re'uveni, uma coleção de lendas cabalísticas do século XVII, já não concede à primeira mulher uma origem igual à de Adão, como faz o Alfabeto de Ben-Sira. Um comentário sobre Gênese 2:21 afirma:

"No começo, quando Aquele Que É Sagrado, Bendito seja, criou (a primeira) Eva, Ele não a fez da carne, mas da sujeira da terra e dos sedimentos". Adão, entretanto, foi feito apenas da terra.

A tradição cabalística tem diversos retratos de Lilith como um demônio, freqüentemente associando-a a outros espíritos femininos, como Naamah, Machlah e Agrat. Na verdade, Lilith é freqüentemente confundida com elas. Yalkut Re'uveni diz, por exemplo, que tanto Lilith quanto Naamah tiveram relações com Adão, trazendo com isso "pragas ao mundo". Entretanto, em outro ponto, Zohar identifica Naamah como "a mãe dos demônios", enquanto Lilith, ao que parece, funciona como sua governanta:

Naamah "avança e se diverte com homens e concebe dele por meio de seus sonhos luxuriosos". (Os rebentos) todos vão para a antiga Lilith, que os cria. Ela lança-se ao mundo e procura seus pequenos, e quando encontra criancinhas, ela as ataca com machados para matá-las e se insinuar em seus espíritos (Zohar III, 76b).

A conclusão dessa e de outras fontes é que Lilith não tem filhos dela. Nesse ponto, Gershom Scholem cita a Torat HaSheydim (séculos XV e XVI) na qual afirma-se que das quatro rainhas-demônio, somente Lilith é incapaz de parir; por ser frígida, ela macula a face da terra. Essas revelações são surpreendentes, quando lembramos de toda a literatura sobre os filhos de Lilith.

Lilith, a Assassina de Crianças: A tradição de Lilith como uma assassina de crianças é vista nas midrash em Números rabínico: "...como Lilith, que, quando não consegue encontrar crianças estranhas, assassina as suas próprias" (16:25). Essa Lilith parece lembrar o demônio babilônio Labartu ou Lamashtu, pois a imagem de assassina de crianças não tem base no Talmud e certamente não tem relação com a primeira Eva. Uma vez que os especialistas divergem quanto à datação de Números rabínico, é difícil determinar se o autor do Alfabeto baseou seu retrato de Lilith como o espírito maléfico que ameaça bebês nessa fonte, ou se ambos derivam de um
antecedente comum. Em todo caso, os temas de promiscuidade e matança de crianças não aparecem até Zohar (119b).

O personagem de Lilith, então, é um labirinto de contradições, interrelacionando uma variedade de lendas e tradições. Se isolarmos todos os fios de demonologia, separando as diversas interpolações de Lilitu, o espírito do vento; Labarut, a assassina de crianças; Lamashtu, a Lamia grega; Lilith, o demônio da noite; resta-nos a estória da primeira Eva, que pode ou não ter recebido em primeiro lugar o nome Lilith.

Arrancada a capa de misticismo medieval e demonologia, essa Lilith emerge como um espírito independente. Se tivesse vencido sua batalha com Adão por direitos iguais, Lilith poderia hoje representar aquela chama de criatividade original em cuja imagem as mulheres poderiam redescobrir e recriar sua história. Em vez disso, a história a exilou nas profundezas da demonologia. Apenas no século XX, quando não há mais necessidade de sheydim, Lilith, que foi obscurecida pelas brumas da demonologia nesses milhares de anos, pode ser revelada hoje como a primeira mulher na terra, igual ao homem e um espírito livre.

Comentários do tradutor

Acho esse texto sobre Lilith fundamental para todo pagão. Pela argumentação sólida e pela conclusão esquizofrênica, ele nos mostra duas coisas:

- Lilith não é nem nunca foi uma divindade pagã. Pagãos cultuarem Lilith demonstra apenas ignorância.

- Como a História, a Antropologia, a Arqueologia e a Lógica podem ser estupradas em nome da conveniência política.

Desenvolvendo um pouco o primeiro tópico. A Lilith Magazine (http://www.lilithmag.com/index.html) é uma revista voltada para mulheres judias. Isso é inteiramente coerente, pois, como o texto demonstra, Lilith é um mito judaico. Não é uma Deusa Negra nem tem patavinas a ver com o paganismo.

No texto, Judy Weinberg mostra que Lilith vem de quatro citações em textos rabínicos – provavelmente oriundos de uma obscura passagem bíblica. Sua transformação na suposta primeira mulher de Adão é obra do Alfabeto de Ben-Sira, escrito já na Alta Idade Média. E sabem o que é pior? A maior parte dos historiadores considera esse texto uma farsa. Um texto atribuído a judeus, mas escrito com intenções claramente anti-semitas – como se diz hoje do mal-falado "Protocolo dos Sábios de Sião". Ou seja, uma farsa dentro de uma farsa.

Temos pencas de Deusas Negras, das quais Hécate e Morrigan são minhas favoritas – apesar de eu não cultuar panteões. Incluir Lilith nesse rol é apenas sucumbir a uma das muitas patetices a que o paganismo foi submetido ao ser transformado em produto pop nos Estados Unidos.

Quanto ao segundo ponto que destaquei, ele está bem claro na conclusão maluca do texto. A autora passa 21 parágrafos mostrando que a Lilith demoníaca (oriunda de quatro obscuras passagens rabínicas) foi enfiada a marteladas numa outra lenda obscura de uma primeira Eva. Demonstra claramente que todas as associações entre as duas são muito posteriores à Diáspora. A rigor, a Lilith "primeira mulher" é uma invenção medieval, não uma tradição da Antigüidade hebraica. Mas eis que no final a autora decide ficar com a invenção. Como diz a piada jornalística, "se a versão é melhor que o fato, publique-se a versão".

E por quê? Conveniência política. A idéia de Lilith como a mulher que não se submeteu ao homem, por mais disparatada que seja do ponto de vista histórico, é um símbolo sob medida para o feminismo – especialmente num país permeado pelo judaico-cristianismo como os EUA.

Nós temos nossa Deusa em seus diferentes aspectos – Donzela, Mãe, Anciã, Criadora, Destruidora etc. etc. Temos modelos para todas as necessidades. No paganismo a mulher encontra uma base espiritual maravilhosa para se libertar de séculos de machismo.

Mas e uma judia? Onde uma mulher nascida na primeira das religiões misóginas (e que não pretende renegar a cultura de seus ancestrais) vai buscar um modelo para lutar por seus justos direitos? Boa pergunta... Na falta de um modelo, inventa-se.

Aliás, uma das coisas mais bizarras da conclusão do texto é que o último parágrafo faz referência a uma batalha com Adão por direitos iguais e se refere a "sua" Lilith como um espírito livre. Ganha um doce diet quem localizar no corpo do texto referências a essa luta e essa liberdade. Não há, pois isso é um enxerto moderno para transformar o personagem numa bandeira de luta político-sexual.

Ah, mas será que isso não foi obscurecido pelo machismo judaico? Será que não há uma Lilith libertária na Antigüidade pagã? Fora a passagem de Isaías, só há uma referência a ela na Antigüidade, e aí sim num texto pagão: o conto "Gilgamsh e a Árvore Huluppu". O herói sumério Gilgamesh, para quem não sabe, é o personagem da mais antiga história registrada da Humanidade, escrita em tábuas de argila há modestamente seis mil anos. No conto a Deusa Inanna pede ao herói que expulse da árvore supracitada três monstros: a serpente que não conhece encantos, o pássaro Zu e a Lilith, a donzela da desolação. Gilgamesh bota os três para correr. Lilith, diz o conto, foge para os lugares desolados que costumava assombrar.

É isso. Essa é toda a referência à dita cuja num contexto pagão – nenhuma Deusa Negra, nenhuma rebeldia, nenhuma afirmação do feminino, apenas um monstro mitológico em nada melhor que Grendel ou o Leão de Neméia.

Portanto, vamos deixar Lilith com quem a inventou e celebrar a beleza, a sensualidade, a fertilidade, a autoridade e a insubmissão das nossas Deusas – essas sim, cultuadas sob as estrelas desde a aurora dos Tempos, e não inventadas por algum cabalista medieval.

sexta-feira, abril 25, 2003
 
Ajustes de atitude… para "Nouveau Witch"

Texto de Lynna Landstreet (href=”http://www.wildideas.net/temple/library/attitude.html” target=”_blank”>original em inglês)

Durante meus 13 anos na Arte, e particularmente nos últimos dois anos em que comecei a aceitar aprendizes, notei um certo número de peculiaridades entre muitos dos membros mais jovens e recém-entrados na comunidade Pagã. Peculiaridades que vão de mais ou menos irritantes a tremendamente nojentas. Muitos desses problemas caem na categoria de Atitude com A maiúsculo.

Antes de avançar, devo dizer que tenho certeza de ter sido culpada das mesmas coisas em meus primeiros anos na Arte. Encaremos o fato, nós todos fomos. Aliás, aqueles de nós que classificam as atitudes atuais como “nouveau witch” – emperequetar-se todo em preto e com cristais, ankas e pentagramas pendurados em todas as partes concebíveis do corpo; insistir em informar a todos, do motorista de táxi à garçonete da birosca que é um bruxo; ou demonstrar seus recém-descobertos Grandes Poderes Psíquicos traçando pentagramas de invocação para convocar um ônibus atrasado ou ficar analisando em voz muito alta a aura dos outros na rua – costumavam ser os piores quando éramos jovens. Não estou dizendo que todo wiccaniano experiente seja necessariamente um perfeito anjo (desculpem a metáfora judaico-cristã). Ainda que muitos de nós superem esses hábitos tediosos com o tempo, ocasionalmente um ou mais deles permanecem. E, acreditem-me, é muito mais fácil livrar-se deles quando se é novo do que lidar com eles depois que se tornam hábitos estabelecidos.

Bem, tendo isso em mente, ofereço os seguintes Exercícios de Reconhecimento e Ajuste de Atitude:

ATITUDE #1:
“Olhe para mim, sou uma Bruxa!”


Reconhecimento:
Se você está lendo no Metrô um livro sobre a Arte, faz questão de segurá-lo de forma a que todos possam ver o título? Quantos adereços você usa normalmente são específica e obviamente ligados ao ocultismo? Você se pilha falando ininterruptamente sobre a Arte, especialmente na presença de não-pagãos? todas as pessoas que você conhece sabem que você é wiccaniano? Ficam sabendo cinco minutos após te conhecerem?

Ajuste:
Não estou dizendo para voltarmos para o “armário de vassouras”, mas pense em como se sentiria se trabalhasse com um Cristão renascido (N.doL. corrente evangélica neopentecostal à qual pertence, por exemplo, George W. Bush) que não conseguisse parar de falar em Jesus. Ficaria entediado rapidamente, não? Falar ininterruptamente sobre a Arte para não-pagãos provavelmente vai apenas encher a paciência deles, além de dar a impressão que somos todos fanáticos religiosos obsessivos.

Primeiro, esteja ciente do problema. Cada vez que se perceber falando da Arte em meios não-pagãos, preste atenção e pense a respeito. Era realmente necessário dizer o que disse? Se não, qual seu verdadeiro motivo? Você apenas está habituado a falar livremente por andar com outros pagãos? Ou, talvez, culpado de tentar ostentar um pouquinho para afugentar a hesitação? Não se preocupe, todos nós fazemos isso de vez em quando. O importante é saber quando está fazendo, de forma a poder lidar com isso.

Estabeleça para si mesmo o desafio de pensar antes de falar sempre. Pergunte a si mesmo: eles precisam saber disso? Se não, por que estou dizendo? Tente perceber como parece/soa para os outros. Lembre-se do que nós freqüentemente falamos sobre os fundamentalistas: qualquer um que esteja genuinamente seguro de em paz com a própria fé não tem a necessidade em enfiá-la na garganta dos outros o tempo todo. Não significa não mencionar nunca – apenas lembre, moderação em tudo.

Lembre-se dos tradicionais quatro poderes do ocultista: saber, ousar, querer e calar. Trabalhe nisso!

ATITUDE #2:
Vivendo uma Vida Mágica – 24 Horas por Dia!


Reconhecimento:
É parente próximo da atitude número 1: é um outro meio de garantir que o mundo todo saiba que você é pagão, mas dessa vez com ações em vez de palavras. Você está sempre fazendo pequenos atos de magia a cada cinco minutos? E garantindo que todos saibam o que está fazendo?

Ajuste:
Antes de mais nada, esteja atento, como no número 1. pense antes de agir. É necessário? Não existe um meio mais fácil e não-mágico de fazer o que quer? Quais são os seus verdadeiros motivos para fazer mágica neste momento e na frente desta platéia? Mais uma vez não estou dizendo para nunca fazê-lo – uma das melhores coisas da Arte é que ela pode e deve ser vivida o tempo todo. Mas seja discreto. Se quer praticar a leitura de auras dentro do ônibus, vá em frente, mas você não precisa apregoar os resultados conforme os atinge. Há milhões de pequenas maneiras de fazer de sua religião e sua arte parte de seu dia-a-dia sem precisar se exibir. Tente estar ciente de seus motivos. Pratique usando sua Arte de formas que não sejam óbvias. Leia novamente os comentários do número 1.

ATITUDE #3:
Guerras de Bruxas


Reconhecimento:
Alguns dizem que a fofoca é o segundo passatempo favorito da comunidade pagã (perdendo para a síndrome de Pega – colecionar objetos brilhantes); outros afirmam que, se tiver que escolher entre conseguir um novo badulaque e saber alguma sujeira sobre alguém que mal conhece, a maioria dos pagãos vai sempre escolher a fofoca.

Vale dizer que isso é provavelmente natural. Pegue um grupo de pessoas – de qualquer tipo – e a primeira coisa da qual elas vão falar é, adivinhe, das outras pessoas. Entretanto, há uma sutil diferença entre o disse-me-disse inevitável de uma comunidade e a fofoca genuinamente maliciosa. Se você não tem certeza da diferença, pergunte-se: Eu diria isso na cara pessoa a que se refere? Diria isso para alguém que sei ser amigo dela? Se não, por que estou dizendo por trás?

Mais ainda: pergunte-se se você realmente tem certeza de que o que está dizendo é verdade, ou se apenas ouviu de alguém que ouviu de alguém que ouviu de alguém etc. E mesmo se você souber que é verdade, é realmente necessário espalhar essa verdade? As pessoas às quais você está falando têm alguma necessidade de saber o que você está contando, além da curiosidade?

Ajuste
Parecida com a número 1. Pense antes de falar. E lembre-se dos quatro poderes, especialmente o primeiro e o quarto.

Não, não, não repita qualquer fofoca a respeito de outra pessoa, por mais deliciosa que seja, senão estiver absolutamente certo dos fatos. Não presuma que qualquer pessoa seja uma fonte infalível de informação, não importa o grau, tradição ou nível de respeito dentro da comunidade. Sacerdotes são humanos, como qualquer um.

Há pelo menos dois lados de cada história, e geralmente mais. Não suponha que você entende uma situação com base no relato de uma pessoa, principalmente se não conhecer todos os envolvidos. Se você ouve histórias horríveis de um lado de um conflito, de qualquer espécie, por que não procurar a outra pessoa e pedir a ela que conte seu lado da história? Você ficará surpreso ao perceber como a mesma situação parece diferente quando vista de duas perspectivas.

E mesmo se você estiver certo o bastante de que conhece os fatos, pense um pouco se é realmente necessário dizer o que sabe. Fofoca, disse-me-disse e “Guerras de Bruxas” pouco fazem para fortalecer uma comunidade. Elas não estão, para dizer de forma gentil, em sintonia com os princípios de perfeito amor e perfeita confiança.

Se você acha que alguém representa uma verdadeira ameaça à comunidade ou que está acontecendo algo de que as pessoas devem estar informadas, conte aos outros (supondo, claro, que você tem certeza de que é verdade). Mas no caso de fofoca inútil, ou você-não-sabe-da-última, deixe para lá. Lembre-se que são necessários dois para fazer fofoca – o que fala e o que ouve. Se alguém começar a falar algo que viole os princípios acima, você não precisa ouvir. Você sempre pode dizer “Eu preciso ouvir isso?”ou “Se você tem um problema com fulana, por que não fala com ela em vez de falar comigo?” ou o que achar melhor.

Esse é um dos hábitos mais difíceis de romper, e todos nós incorremos nele de vez em quando, mas é um dos maiores problemas em nossa comunidade, logo, vale o esforço.

ATITUDE #4:
Eu sou o bom!


Reconhecimento:
Todo mundo tem algo a ensinar e algo a aprender, algo em que é bom e algo em que não é tão bom assim. Mas você vai descobrir que é mais vantajoso – e as pessoas vão descobrir que é mais fácil de lidar – se você evitar se vangloriar constantemente de tudo em que é bom ou que pensa saber mais que os outros, e se concentrar mais em aprender com os outros e melhorar nas suas fraquezas, em vez de fazer quem todos saibam de seus pontos fortes.

Por um motivo, se você é como a maioria das pessoas, provavelmente não sabe tanto quanto pensa. Uma das primeiras coisas que aprendi após minha iniciação como Sacerdotisa é que há muito mais coisas aí que eu não sei do que coisas que eu sei. O aprendizado nunca termina. Cada iniciação, cada conquista, é um novo início e, principalmente se você ainda está em seus primeiros tempos na Arte, vale mais aprender que ensinar, que dar conselhos que ninguém pediu ou jactar-se do que aprendeu até agora.

Confiança excessiva também pode ser perigosa, levando-o a tentar coisas que realmente não sabe como fazer. Um pouco de conhecimento é uma coisa perigosa. Não enfadá-los detalhando de todo exorcismo mal feito de que ouvi falar, ou dos revezes psíquicos e feitiços fracassados que eu mesma encarei, ou mesmo dos tentaram regressões a vidas passadas e acabaram falando com quatro vozes diferentes numa cela acolchoada no Instituto Clarke (N.doL.: famoso manicômio dos EUA). Basta dizer que o poder da magia é real, assim como são os perigos. Na dúvida, não tente.

Ajuste:
Tente contar o número de vezes durante um dia típico em que você diz frases que começam com “eu”, especialmente “eu posso...”, “eu sei...”, “eu sou realmente bom em...”, “eu sei como...” etc. E tente diminuir esse total. Pense: a pessoa com quem estou falando realmente precisa saber isso? Sou realmente o especialista que penso ser? Essa pessoa tem algo a me ensinar, algo que ela sabe mais do que eu? O que eu posso aprender com eles? Até um idiota tem algo a ensinar. Lembre-se da frase da Rede Wiccaniana, de Doreen Valiente: “Fale pouco, ouça muito”. Pratique isso.

E se você estiver pensando em fazer qualquer tipo de trabalho mágico que nunca fez antes, peça conselho a alguém que já fez. Se lhe disserem que você ainda não está pronto, ouça. Aprender a arte não é uma corrida. Não é ser o primeiro da turma a fazer esse ou aquele feitiço ou dominar esse ou aquele talento. Preste atenção ao que Starhawk chama de “trabalho básico de magia” e tenha certeza que você o aprendeu antes de tentar brincar com fogos de artifício. Ou, em outras palavras, não tente correr enquanto não tiver dominado completamente a arte de andar.

ATITUDE #5:
Não é simplesmente uma boa idéia – É a Lei!


Reconhecimento:
Você considera cada palavra do seu professor como uma Escritura Sagrada? Ela não faz nada que te pareça errado? Você pede conselho a ele todas as vezes que precisa tomar uma decisão, não importa o quão trivial? Você acha que as práticas da sua tradição estão gravadas na pedra e fica horrorizado se vê alguém agindo de outra forma? Você tem o hábito de sair proclamando aos quatro ventos que qualquer um que te irrite está violando a Lei da Arte? Você censura abertamente os recém-chegados no círculo e sai apontando em voz alta todas as peças de vestuário ou ornamentos que ele não deveria usar na sua tradição?

Ajuste:
Relaxe, porra! Respire fundo. Solte esses músculos anais. Tome uma pílula de ervas para os nervos – aliás, tome três. Então encare os seguintes princípios: Seu professor não é perfeito. você não é perfeito. ninguém é perfeito. Sua tradição não é a única que existe. “A lei foi feita para guiar, não para atar.” O céu provavelmente não vai cair porque alguém está no círculo usando uma vestimenta de US$ 5 comprada de um camelô e que poderia parecer muito uma vestimenta sacerdotal da sua tradição se vista à luz de velas através de uma pesada fumaça de incenso por alguém com visão 20/200.

Agora, pode-se argumentar que esse problema de atitude pode, pelo menos para iniciantes, ser menos daninho que seu oposto, a visão eu-posso-tudo citada acima. E é certamente melhor ter uma consciência superdesenvolvida que uma subdesenvolvida. Mas os danos não devem ser subestimados. Alguém que precisa o tempo todo que lhe digam o que fazer e que se agarra à forma da Lei a ponto de ignorar seu espírito carece seriamente de intuição, confiança e capacidade de julgamento.

Cedo ou tarde sua professora não vai estar por perto quando você precisar. Ou não haverá uma lei que se aplique a uma determinada situação em que você se encontre (na verdade, provavelmente não há – ouço um monte de gente com esse problema afirmar que várias coisas são “contra as Leis da Arte” que não são abordadas em nenhuma versão das Leis que eu conheça). Quando isso acontecer, você vai ter que aprender a fazer algo que é mais difícil quanto mais tarde começar. Isso mesmo, você vai ter que aprender a pensar por si mesmo.

Falando apropriadamente, “fundamentalista pagão” deveria ser uma contradição de termos. A Arte sempre deu muito valor à consciência individual, à intuição e ao “livre exercício da sabedoria”. Somos, em última análise, responsáveis por nossas consciências perante os Deuses, e não os vejo segurando um livro de regras numa mão e fichas na outra, marcando ansiosamente cada suposta ofensa como se fossam faltas numa prova de direção.

Certamente não estou sugerindo que você vá ao outro extremo e abrace o enfoque vale-tudo, deixa-rolar e você-cria-sua-própria-realidade adotado pelas tradições mais “Californizadas”. A Lei – em todas as suas numerosas variações – existe por um motivo: fornecer uma base firme em ética, costumes e visão de mundo wiccaniana. Se você decidiu estudar com um professor, deve respeitar sua autoridade. Mas isso não significa abdicar de sua capacidade de pensamento crítico.

Da mesma forma, qualquer que seja a tradição com a qual trabalhe, presumivelmente você está nela porque sente que é a ideal para você. Mas isso não significa que seja a ideal para todos. Não fique se agarrando a tecnicalidades – olhe, em vez disso, para as idéias básicas e para as intenções que sublinham as práticas mágicas e espirituais, e você provavelmente verá que diversas tradições da Arte têm mais em comum do que pensa.

E por favor, por favor, resista à tentação de agir feito um sargentão sempre que vir alguém fazer algo que considere errado. O ritual inteiro não vai fracassar só porque algum novato deu dois passos no sentido anti-horário ou não olhou para o quadrante certo na hora certa, ou esqueceu de tirar o relógio, ou que for. relaxe. Se você acha que deve falar com ele, fale – de forma educada e respeitosa e, se possível, após o ritual. Se você fica entrando em pânico por qualquer errinho, vai se estressar à toa e afastar as outras pessoas. Não sue por coisas pequenas. Não vale a pena.

terça-feira, abril 01, 2003
 
A criação segundo a Wicca

Texto de MillenniuM.'. Não repassar sem crédito!

I- A CRIAÇÃO

No princípio, o TUDO era NADA.

A única forma existente era nossa Deusa, que caminhava pelo vazio, solitária em sua sabedoria infinita. Vagava pelo infinito do NADA, sem tempo, sem razão até encarar-se no espelho formado por sua vontade única e apaixonar-se pelo que descobriu. Nesse espelho, nossa Senhora viu sua parcela masculina, existente mesmo antes do tempo ser tempo e do TUDO ser criado.

Desse amor, gerado espontaneamente, o maior de todos os amores, o amor que todos devemos ter por nossa essência, nasce nosso Senhor o Deus, parcela masculina do TUDO, necessária a toda a criação. O amor verdadeiro, chamado por muitos como Ágape nasce entre ambos instantaneamente e desse amor, o TUDO é criado.

Da união de nosso Senhor e de nossa Senhora, da junção de seus corpos explode o FOGO, primeiro dos elementos componentes da existência,o verdadeiro FOGO da paixão e com o FOGO surge a LUZ. E com a LUZ o calor, uma das características doadoras de toda a vida.

Assim como o Deus e a Deusa, masculino e feminino, a escuridão inicial e a luz explosiva, dos fluidos que emanaram de seus corpos, nasce o contraposto ao FOGO, surge então o elemento ÁGUA. ÁGUA, doadora de vida, necessária, fluida, fresca.

Como o FOGO e a ÁGUA eram incompatíveis em sua forma mais etérea, dotados de propriedades contrárias, eram os antagônicos, do suspiro dos amantes no êxtase da criação nasce o AR. O AR, elemento mediador entre o FOGO e a ÁGUA, possuindo características de ambos elementos criados anteriormente, toma seu espaço separando sutilmente os antagônicos, ganhando do Fogo o calor e da Água a umidade. Os corpos de nossos criadores se estremecem no êxtase do amor e seus corpos liberam a energia que, misturando-se aos três elementos iniciais, formam o elemento TERRA. Com a TERRA, tudo o que era etéreo, impalpável, inodoro, incolor, tudo criado torna-se sólido. A Terra, por ter sido criada a partir de energia e dos três elementos principais, torna-se o quarto elemento, com características de todos os anteriores e mais, com as principais que dotavam o TUDO de peso e matéria.

Nosso Senhor e nossa Senhora tornam-se assim o quinto elemento, o verdadeiro ESPÍRITO e, utilizando-se de toda sua criação sonham com o espaço, os planetas, as estrelas, o UNIVERSO. No Universo encontava-se nosso Planeta, a TERRA. Nossos deuses voltaram sua atenção para esse grão perdido no Universo e nele começaram suas obras. Num primeiro momento, nossa Deusa se ocupava dos Céus e dos Mares enquanto nosso Deus preocupava-se com a terra, sua vegetação, seus animais.

O planeta tomava forma, mas ainda faltava-lhe o espírito. Para abrigar o espírito, parte viva mais sutil de nossos Deuses, foram criados os seres humanos à imagem de nosso Deus e nossa Deusa. Os antagônicos complementares, o feminino e masculino nasciam de forma perfeita contendo dentro de si, não em carne mas em espírito, a energia dos Deuses com sua parcela masculina e feminina indivisíveis.

E os Deuses sorriram diante de sua criação. Os amantes então dotaram os seres humanos de uma fagulha de inteligência e de seu livre arbítrio, seu direito de escolha própria. E assim como pais que têm a certeza da criação de seus filhos, tranqüilos se põem a descansar.

sexta-feira, fevereiro 28, 2003
 
As Antigas Leis
(1961)

[A] A Lei foi feita há muito por Ardane. A Lei foi feita para os Wiccanianos, para aconselhá-los e ajudá-los em suas atribulações. Os Wiccanianos devem prestar a adoração devida aos Deuses e obedecer a seu legado, como foi determinado por Ardane, pois a Lei foi feita para o bem dos Wiccanianos. A adoração dos Wiccanianos é boa para os Deuses, pois os Deuses amam os Wiccanianos. Como um homem ama uma mulher, governando-a, os Wiccanianos devem amar os Deuses, sendo governados por eles. E é necessário que o Círculo, que é o Templo dos Deuses, seja traçado e purificado, que seja um lugar adequado para os Deuses entrarem. E os Wiccanianos devem ser adequadamente preparados e purificados para entrar na presença dos Deuses. Com amor e adoração em seus corações, eles devem fazer crescer o poder em seus corpos e direcioná-lo aos deuses, como nos foi ensinado no passado. Pois esta é a única maneira de o homem ter a comunhão com os Deuses, já que os Deuses não podem ajudar o homem sem a ajuda dos homens.

[B] E a Alta Sacerdotisa governará seu Coven como representante da Deusa, e o Alto Sacerdote a ajudará como representante do Deus. E a Alta Sacerdotisa, de sua livre vontade, escolherá aquele que, se tiver posição hierárquica (N.do T.: conhecimento iniciático) para isso, será seu Alto Sacerdote. Pois o próprio Deus beijou os pés dela em fervorosa saudação e depositou seu poder aos pés da Deusa, devido à juventude e à beleza dela, à doçura e à gentileza dela, à sabedoria e à Justiça dela, à humildade e à generosidade dela. Assim ele renunciou em favor dela ao seu domínio. Mas a Sacerdotisa deve ter em mente que todo o poder deriva dele – é apenas emprestado quando usado sábia e justamente. E a maior virtude da Alta Sacerdotisa é que ela reconhece a juventude como necessária à representante da Deusa, abdicando de bom grado em favor de uma mulher mais jovem, caso o Coven assim o decida em Conselho. Pois uma verdadeira Alta Sacerdotisa sabe que entregar de bom grado o orgulho do posto é a uma das maiores virtudes, e que dessa forma ela retornará ao cargo em outra vida, com maiores poder e beleza.

[C] Nos dias em que a Feitiçaria era praticada em toda parte, éramos livres e adorávamos em Todos os Maiores Templos, mas nestes tempos infelizes devemos manter secretos nossos mistérios sagrados. Então seja a vontade de Ardane que ninguém que não os Wiccanianos veja nossos mistérios, pois muitos são os nossos inimigos, e a tortura solta a língua de muitos. Seja a vontade de Ardane que cada Coven não saiba dos assuntos do Coven seguinte ou quem são seus membros, salvo o Sacerdote e a Sacerdotisa. Que não haja comunicação entre ele, a não ser pelo Mensageiro dos Deuses, ou o Que Convoca. Apenas se for seguro, os Covens devem se reunir, num local a salvo, para os grandes festivais. Uma vez lá, ninguém deve dizer de onde veio ou revelar seu verdadeiro nome, uma vez que, se alguém for torturado, não pode revelar em sua agonia aquilo que não sabe. Que seja a vontade de Ardane que ninguém deve falar aos que não forem da Arte quem são os Wiccanianos, nem revelar-lhes os nomes ou onde se reúnem, ou de forma alguma dizer algo que possa entregá-los aos nossos inimigos, nem dizer-lhes onde é o lugar do Coven ou a área de atuação do Coven, ou onde aconteceram os encontros, ou mesmo se aconteceram encontros. Se alguém violar essas leis, mesmo sob tortura, A Maldição dos Deuses cairá sobre sua cabeça, de forma que jamais renasça na Terra e permaneça no lugar a que pertence: o Inferno dos cristãos.

[D] Que cada Alta Sacerdotisa governe seu Coven com Justiça e amor, com a ajuda e o conselho dos Elders, sempre buscando o conselho do Mensageiro dos Deuses, se ele vier. Ela estará atenta a todas as reclamações dos irmãos e se esforçará para apaziguar as diferenças entre eles. Mas deve-se reconhecer que há aqueles que lutarão para obrigar os outros a fazer a própria vontade. Eles não são necessariamente maus e freqüentemente têm boas idéias, e tais idéias devem ser levadas em consideração. Se eles não concordarem com seus irmãos ou disserem “eu não atuarei sob o comando dessa Alta Sacerdotisa”, diz a antiga lei que, para a conveniência dos irmãos e para acabar com as disputas, qualquer um pode buscar um novo Coven, pois vive uma aliança com os Covens. Qualquer um vivendo dentro a área de atuação do Coven que deseje formar um novo Coven a fim de evitar conflitos, deve comunicá-lo aos Elders e naquele momento abandonar sua morada e mudar-se para a área do novo Coven. Membros de velho Coven podem juntar-se ao novo quando este for formado, mas se o fizerem devem deixar o antigo Coven. Os Elders do Novo e do Velho Covens devem se reunir em paz e amor fraternal para decidir os novos limites. Aqueles que são da Arte mas vivem fora das áreas dos dois Covens podem juntar-se a qualquer um deles, mas não a ambos, ainda que possam, com o consentimento dos Elders, reunirem-se todos para os Grandes Festivais, mas somente se o fizerem em verdadeira paz e amor fraternal. Romper um Coven freqüentemente provoca brigas, por isso estas leis foram feitas no passado. E que a maldição dos Deuses recaia sobre quem as violar. Que seja a vontade de Ardane.

[E] Se você mantém um livro, que nele haja somente a sua própria escrita. Deixe que seus irmãos e irmãs copiem dele, mas jamais permita que o livro saia de suas mãos nem mantenha escritos de outros, pois se a escrita deles for encontrada, eles também podem ser levados e condenados. Cada um deve guardar seus escritos e destruí-los ante a ameaça do perigo. Decore o máximo que puder e quando o perigo passar, reescreva seu livro, e ele estará a salvo. Por esse motivo, se alguém morrer, destrua o livro dele, caso ele não tenha podido fazê-lo, pois se ele for descoberto constituirá uma prova contra o morto, e, como nossos opressores bem sabem, “ninguém é um bruxo sozinho”, assim os parentes e amigos dele estarão em perigo. Por essa razão, destrua tudo que não for necessário. Se o seu livro for encontrado, ele será uma prova apenas contra você. Você pode ser condenado. Mantenha os pensamentos sobre a Arte fora de sua mente. Diga que teve pesadelos, que o diabo o fez escrever sem seu conhecimento. Pense para si “eu nada sei, eu nada lembro, eu esqueci de tudo”. Faça com que isso entre em sua mente. Se a tortura for grande demais para que você a suporte, diga: “Eu confesso. Não suporto esta tortura. O que querem que eu diga? Falem e eu direi”. Se tentarem fazer com que falem da irmandade, NÃO O FAÇA, mas se tentarem fazer com que fale de impossibilidades, como voar pelo ar, unir-se ao Diabo cristão ou sacrificar crianças ou comer carne humana, a fim de livrar-se da tortura, diga: “Eu tive um sonho ruim. Eu não era eu mesmo. Estava louco.” Nem todos os Juízes são maus. Se houver uma desculpa eles podem mostrar piedade. Se você já confessou, negue depois; diga que balbuciou coisas sob tortura, que não sabia o que fez ou disse. Se for condenado, não tema. A Irmandade é poderosa, pode ajudá-lo a escapar se você se mantiver firme. Mas se você a trair, não lhe restará esperança nesta vida ou na que está por vir. Esteja certo que, se você for resoluto para a fogueira, Dwale lhe será entregue. Você nada sentirá. Irá para a Morte e para o que existe além, o êxtase da Deusa.

[F] É provável que antes de você ser condenado, Dwale lhe seja entregue. Lembre-se sempre que os cristãos temem que alguém morra sob tortura. Ao primeiro sinal de desmaio, eles a interrompem e botam a culpa nos torturadores. Por isso, os torturadores são capazes que fingir que torturam, mas não o fazem. Por isso é melhor não morrer de primeira. Se Dwale chegar até você, é um sinal de que você tem amigos em algum lugar, logo, não se desespere. Se o pior acontecer e você for para a fogueira, espere até que as chamas e a fumaça se ergam, curve a cabeça e respire fundo. Você sufocará e morrerá rapidamente, e acordará nos braços da Deusa.

[G] Para evitar ser descoberto, faça com que suas ferramentas sejam coisas comuns que qualquer um teria em casa. Faça Pentáculos de cera, que possam ser quebrados facilmente. Não tenha uma espada, a menos que sua posição social o permita. Não guarde coisas com nomes ou sinais. Escreva neles com tinta antes de consagrá-los e apague imediatamente após. Não os entalhe, pois ele fariam com que fosse descoberto. Que a cor dos cabos permita-lhe diferenciá-los.

[H] Lembrem-se sempre que vocês são os Filhos Ocultos dos Deuses. Nada faça que os desonre. Nunca ostente, nunca ameace, nunca diga que deseja o mal a quem quer que seja. Se você ou qualquer um de fora do Círculo falar da Arte, diga: “Não fale disso comigo, me assusta. Traz má sorte falar disso.” O motivo é: os cristãos têm espiões em toda parte. Eles falam como se fossem aos Encontros dizendo “Minha mãe costumava sair para adorar os Antigos. Eu gostaria de ir também”. Para eles, negue qualquer conhecimento. Para os outros, diga: “Esses tolos falam em bruxas viando pelo ar; para fazer isso elas teriam que ser mais leves que dentes-de-leão”, e “Dizem que as bruxas são todas velhas de olhos esbugalhados, então que graça pode haver em ir a um desses encontros de que tanto falam?”. Diga: “Muitos sábios hoje dizem que tais criaturas não existem”. Sempre faça um gracejo. No futuro, talvez a perseguição termine e possamos adorar em segurança novamente. Vamos rezar por esse dia feliz.

[I] Que as bênçãos da Deusa e do Deus caiam sobre aqueles que mantêm essas leis que são a vontade de Ardane.

[J] Se a Arte tiver alguma renda, que todos os irmãos a guardem e ajudem a mantê-la honesta e boa para a Arte, e que todos guardem com igualdade todo o dinheiro da Arte. Mas se alguns irmãos verdadeiramente o ganharam, é justo que tenham seu pagamento, e este não deve ser considerado como ganhar dinheiro às custas da Arte, mas bom e honesto trabalho. Mesmo os cristãos dizem: “Um trabalhador é digno de seu pagamento”. Mas se algum irmão trabalhar pelo bem da Arte sem pagamento, que essa seja sua maior honra. Que seja a vontade de Ardane.

[K] Se houver disputas ou querelas entre os irmãos, a Alta Sacerdotisa deve imediatamente reunir os Elders e consultá-los sobre o assunto. Eles devem ouvir ambos os lados, primeiro sozinhos e depois juntos, e decidir com justiça, sem favorecer um lado ou outor, sempre reconhecendo haver pessoas que não aceitam trabalhar sob as ordens de outras, mas ao mesmo tempo que há algumas pessoas que não saber dar ordens com justiça. Para aqueles que não aceitam obedecer, há uma resposta: "Deixe o Coven e procure outro, ou monte um Coven para você, levando consigo aqueles que desejem partir." Para aqueles que não sabem dar ordens com justiça, a resposta será: "Aqueles que não conseguem cumprir suas ordens vai abandoná-lo", pois ninguém devem comparecer aos encontros (rituais) na companhia daqueles com quem estão em discordância. Assim, se alguém não concordar, que parta, pois a Arte deve sobreviver. Que seja a vontade de Ardane.

[L] Nos dias antigos, quando tínhamos o poder, podíamos usar nossas Artes contra qualquer um que maltratasse alguém da Irmandade. Mas nestes dias malígnos não devemos fazê-lo, pois nossos inimigos criaram um poço ardtente de fogo eterno no qual dizem que seu Deus lança todos aqueles que o adoram, exceto os pouquíssimos poupados pelos encantos e missas dos padres - o que se consegue principalmente dando dinheiro ou presentes ricos, pois o Deus Maior que Todos está sempre precisando de dinheiro. Mas, da mesma forma que nossos Deuses precisam de nossa ajuda para fertilizar as pessoas e as plantações, o Deus dos cristãos precisa da ajuda dos homens para nos encontrar e destruir. Seus sacerdotes dizem que todos os que receberem nossa ajuda ou nossa cura estão condenados ao Inferno para sempre, de forma que os homens enlouquecem de medo. Mas eles fazem com que os homens acreditem que podem escapar desse inferno se oferecerem vítimas aos supliciadores. Por esse motivo, todos estão sempre espionando e pensando "se eu puder capturar alguém da Wicca, escaparei desse poço incandescente". Mas nós temos nossos estratagemas, e, após procurarem muito e não nos encontrarem, os homens dizem "eles não existem, ou, se existem, estão em alguma terra distante". Mas quando um de nossos opressores morre ou mesmo adoece, sepre surge o grito "isto é obra de feitiçaria", e a caçada recomeça. E ainda que ele massacrem dez de seu próprio povo para cada um de nós, eles não se incomodam, pois são milhares e nós somos poucos. Então que seja a vontade de Ardane que ninguém use a Arte para fazer o mal a outro, não importa o quanto mal nos façam. Por tanto tempo obedecemos a essa lei, "não faça o mal", que muitos sequer acreditam que nós existimos. Então que seja a vontade de Ardane que essa lei continue e nos ajudar em nossa luta. Ninguém, não importa quão grande a injustiça ou injúria que sofra, deve usar a Arte para fazer o mal ou ferir outra pessoa. Mas ele pode, após grande deliberação com os demais, usar a Arte para impedir ou evitar que os cristão façam o mal a nós ou a outros, mas apenas para iludi-los e detê-los, nunca como uma punição. Os homens dizem: "se alguém é um grande perseguidor de velhas que ele diz serem bruxas e nenhuma lhe faz Skith (lhe fere), deve ser prova de que elas não têm esse poder, ou mesmo que não são bruxas". Isso porque todos bem sabem que muitos morreram porque alguém tinha uma desavença com eles, ou foram perseguidos por dinheiro e bens para serem tomados, ou mesmo por não terem dinheiro para subornar seus perseguidores. E muitas morream pela perseguição a mulheres idosas, tantas que os homens hoje dizem que apenas as velhas são bruxas. Isso deve ser usado a nosso favor, para afastar de nós a suspeita. Já faz muitos anos que alguma bruxa foi morta na Inglaterra, mas qualquer uso errado do poder pode provocar a Perseguição novamente; assim, nunca viole esta lei, não importa o quanto esteja tentado a fazê-lo, e nunca permita que ela seja violada. Se você souber de uma violação, deve trabalhar com afinco contra ela. Se qualquer Alta Sacerdotisa ou Alto Sacerdote consentir numa violação, deve ser deposto imediatamente, pois está colocando em risco o sangue dos Irmãos. Faça o bem e estará a salvo, e faça somente se estiver em segredo, pois qualquer conversa a nosso respeito pode nos colocar em perigo.

[M] Obedeça estritamente a Antiga Lei, nunca aceite dinheiro para usar a Arte. Os padres cristãos e os feiticeiros é que aceitam dinheiro para usar suas Artes, e vendem Dwale e feitiços perversos de amor e indulgências para livrar os homens de seus pecados. Não seja como eles. Não seja como eles! Se não aceitar dinheiro, você estará livre da tentação de usar a Arte para fins malígnos.

[N] Você pode usar a Arte em benefício próprio, ou em benefício da Bruxaria, somente se estiver certo de não ferir ninguém. Mas sempre deixe que o Coven debata a fundo o assunto. Apenas se todos estiverem convencidos de que ninguém se ferirá, a Arte poderá ser usada. Se não for possível atingir seus objetivos sem que alguém sofra, talvez a meta possa ser alcançada de forma diferente, sem ferir ninguém. Que a Maldição dos Deuses caia sobre aqueles que desobedecerem esta lei. Que seja a vontade de Ardane.

[O] É legítimo que, se alguém precisar de uma casa ou de terra e ninguém quiser vender, se influencie a mente do dono para que ele queira vendê-la, mas de modo a não prejudicá-lo e pagando o preço devido, sem regatear. Jamais regateie ou barganhe qualquer coisa que for comprada com a ajuda da Arte. Que seja a vontade de Ardane.

[P] É a Antiga Lei e amis importante das Leis que ninguém faça ou diga algo que ameace qualquer praticante da Arte, ou coloque-o com as leis do país ou a Lei da Igreja ou de qualquer um de nossos perseguidores. Em qualquer disputa entre irmãos, ninguém deve invocar leis que não as da Arte, ou qualquer tribunal que não o da Sacerdotisa e do Sacerdote e dos Elders. E que a Maldição dos Deuses caia sobre qualquer um que o fizer. Que seja a vontade de Ardane.

[Q] Não proibido dizer como dizem os cristãos, "Existe Feitiçaria na Terra", pois nossos antigos opressores tornaram Heresia não acreditar na Feitiçaria e um crime negá-la, de forma que fazê-lo o colocaria sob suspeita. Mas diga sempre "Eu não sei de feiticeiras por aqui, logo, devem existir, mas longe. Não sei onde". Fale sempre no sentido de fazer com que os outros duvidem de como as feiticeiras são. Fale delas como velhar carcomidas, fazendo amor com o Diabo e voando pelo ar. E diga "Como pessoas podem voar se não são leves como dente-de-leão?" Que a maldição dos Deuses caia sobre quem levar supeita contra qualquer membro da Irmandade, ou fale de um verdadeiro local de encontros ou onde qualquer um deles vive. Que seja a vontade de Ardane.

[R] Que a Arte tenha livros com os nomes de todas as Ervas boas para o homem, e todas as curas, e que deles todos possam aprender. Mas tenha outrs livros com todas as poções e feitiços, e deixe que apenas os Elders e as pessoas de extrema confiança tenham esse conhecimento. Que seja a vontade de Ardane.

[S] E que as Bênçãos dos Deuses estejam sobre todos os que respeitarem essa leis, e que as Maldições do Deus e da Deusa caiam sobre quem as violar. Que seja a vontade de Ardane.

(Os dois parágrafos seguintes foram acrescentados após 1960)

[T] Lembrem-se que a Arte é o segredo dos Deuses e deve ser usada apenas com sabedoria, nunca para exibição ou para se vangloriar. Magos e cristãos podem provocar-nos, dizendo: "Vocês não têm poder. Façam magia diante de nossos olhos, então nos acreditaremos", tentando fazer como que traiamos a Arte para eles. Não os atenda, pois a Arte é sagrada e deve ser usada somente em caso de necessidade. Que a maldição dos Deuses caia sobre quem violar essa lei.

[U] É da natureza da mulher e do homem que eles busquem sempre novo amor, e não devemos repreendê-los por isso, mas isso pode ser prejudicial para a Arte. Aconteceu muitas vezes de um Alto Sacerdote ou uma Alta Sacerdotiza, impelidos pelo amor, partirem com seus amados, abandonando o Coven. Se uma Alta Sacerdotiza decide renunciar, deve fazê-lo diante de todo o Coven para que sua renúncia seja válida. Mas se simplesmente for embora, como saber se não desejará voltar após alguns meses? Assim, é a lei que, se a Alta Sacerdotisa deixar o Coven, mas voltar no espaço de um ano e um dia, será aceita de volta e tudo será como antes. Enquanto isso, se ela tiver uma representante, esta agirá como Alta Sacerdotisa enquanto ela estiver ausente. Se ela não retornar em um ano e um dia, o Coven elegerá uma nova Alta Sacerdotisa, a menos que haja uma boa razão em contrário. A Donzela e representante da Alta Sacerdotisa deverá receber os benefícios pelo trabalho realizado."

Texto do próprio Gerald Gardner, traduzido por mim.

Algumas observações da tradução:
* Gardner usa Wicca no sentido “os praticantes” e também "a religião". No primeiro caso, traduzi por "Wiccanianos".
* Ardane é Arádia, a primeira bruxa ou uma faceta da Deusa.
* Mantive "Elders" no original em inglês. A tradução seria "anciões", mas aqui não significa necessariamente os mais velhos, mas o de maior hierarquia e conhecimento dentro da Arte.
* Dwale é "logro", "enganação". Nesse caso refere-se a uma erva usada como veneno mortífero. Um membro da Arte infiltrado (ou alguém a soldo deste) a entregava ao condenado antes de este ser queimado vivo ou submetido a torturas diante das quais certamente daria com a língua nos dentes. Ele morria, claro, mas de forma bem menos atroz e com a promessa da recompensa divina no seio da Deusa.

 
As 7 leis herméticas são importantes para a feitiçaria:

1ª ) Lei do Mentalismo: O universo é mental ou Mente. Isso significa que todo universo fenomenal é simplesmente uma criação mental do TODO... Que o universo tem sua existência na Mente do TODO.

Uma outra maneira de dizer isso é: "tudo existe na mente do Deus e da Deusa que nos 'pensa' para que possamos existir. Toda a criação principiou como uma idéia da mente divina que continuaria a viver, a mover-se e a ter seu ser na divina consciência."

"O Universo e toda a matéria são consciência do processo de evolução."

Minha opinião é que toda a matéria são como os neurônios de uma grande mente, o universo consciente, que "pensa".

Todo o conhecimento flui e reflui de nossa mente, já que estamos ligados a uma mente divina que contem todo o conhecimento.

É claro que não estamos conscientes de "todo o conhecimento" em qualquer momento dado, por que seria uma tarefa exorbitante manuseá-lo e processá-lo e ficaríamos loucos no processo.

Os cinco sentidos do cérebro humano atuam tanto como filtros como fontes de informação. Eles bloqueiam uma considerável soma de informação caso contrário seriamos esmagados por informações que nos bombardeiam minuto a minuto como sons, cheiros e até idéias, não seriamos capazes de nos concentrarmos nas tarefas especificas em mãos. Mas sob condições corretas de consciência podemos moderar, ou até desligar o processo de filtração, com a consciência alterada, o conhecimento universal (i.e. Registros Akáshicos) torna-se acessível. Abramos nossa mente ao TODO (i.e. o Uno, Deus + Deusa). Deixemos o conhecimento entrar.

2ª ) Lei da Correspondência: "Aquilo que está em cima é como aquilo que está embaixo."

Essa lei é importante porque nos lembra que vivemos em mais que um mundo. Vivemos nas coordenadas do espaço físico, mas também vivemos em um mundo sem espaço e nem tempo.

A perspectiva da Terra normalmente nos impede de enxergar outros domínios acima e abaixo de nós. A nossa atenção está tão concentrada no microcosmo que não nos percebemos o imenso macrocosmo à nossa volta. O principio de correspondência diz-nos que o que é verdadeiro no macrocosmo é também verdadeiro no microcosmo e vice-versa.

Portanto podemos aprender as grandes verdades do cosmo observando como elas se manifestam em nossas próprias vidas.

Por isso estudamos o universo: para aprender mais sobre nós mesmos.

Na menor partícula existe toda a informação do Universo.

3ª ) Lei da vibração: Todas as coisas se movimentam e vibram com seu próprio regime de vibração. Nada está em repouso.

Das galáxias às partículas sub-atômicas, tudo é movimento.

Todos os objetos materiais são feitos de átomos e a enorme variedade de estruturas moleculares não é rígida ou imóvel, mas oscila de acordo com as temperaturas e com harmonia com as vibrações térmicas do seu meio ambiente. A matéria não é passiva ou inerte, como nos pode parecer a nível material, mas cheia de movimento e ritmo. Ela dança.

4ª ) Lei da Polaridade: A polaridade é a chave de poder no sistema hermético. Tudo é dual. Os opostos são apenas extremos da mesma coisa. Energia negativa (-) é tão "boa" ou "má" quanto energia positiva (+).

5ª ) Lei do ritmo: Tudo está em movimento, a realidade compõe-se de opostos. E os opostos se movem em círculos.

As coisas recuam e avançam, descem e sobem, entram e saem. Mas também giram em círculos e espirais. A lei do ritmo nos assegura-nos que cada ciclo busca sua complementação. A grande roda da vida esta sempre fazendo um circulo. O que se muda é o tamanho desse círculo.

6ª ) Lei do Gênero: O principio hermético do gênero diz que todos tem componentes masculinos e femininos. É uma importante aplicação da lei da polaridade. É semelhante ao principio com o principio animas animus que Carl Jung e seus seguidores popularizaram, ou seja que cada pessoa contém aspectos masculinos e femininos, independente do seu gênero físico, nenhum ser humano é 100% homem ou mulher, e isso é até astrologicamente explicado, uma vez que todos somos influenciados por todos os signos (uns mais, outros menos), e metade do zodíaco é feminino, enquanto que a outra metade é obviamente masculina (Esse é mais um argumento que suporta a igualdade entre Deus e Deusa).

Em todas as coisas existe uma energia receptiva feminina e uma energia projetiva masculina, a que os chineses chamavam de Yin Yang (e o que os bruxos chamam de Deusa e Deus).

7ª ) Lei de Causa e Efeito: Em sua forma tradicional, a lei de causa e efeito diz que nada acontece por acaso, que para todo efeito existe uma causa, e que toda causa é, por sua vez, um efeito de alguma outra causa.

Contribuição inestimável de Ella, minha sacerdotisa

segunda-feira, fevereiro 24, 2003
 
TEXTOS SAGRADOS


"O Chamado da Deusa"

Com certeza, o texto mais importante que temos na Wicca. O Chamado da Deusa (também conhecido por Os Encargos da Deusa, O Papel da Deusa, a Exortação da Deusa ou a Carga da Deusa) foi escrito originalmente por Gerald Gardner, em 1949. Porém, anos mais tarde, uma iniciada de Gardner, Doreen Valiente, descontente com a qualidade do texto de Gardner e achando que ele não refletia bem o espírito da Arte, resolveu reescrever o texto, fazendo-o de forma brilhante. A sua versão se tornou mundialmente famosa e é o texto definitivo da Wicca. Abaixo, primeiramente apresentamos a versão escrita por Doreen Valiente e, em seguida, a versão original de Gardner, para apreciação.

Ouçam vós as palavras da Grande Mãe, que desde os dias antigos foi chamada entre os homens de Ártemis, Astarte, Dione, Melusine, Aphrodite, Cerridwen, Diana, Arianrhod, Bride e por muitos outros nomes.

"Sempre que vós tiverdes quaisquer necessidades, uma vez ao mês, e melhor seria quando a lua estiver cheia, então vós deveis vos reunir em algum local secreto e adorar o meu espírito, eu que sou a Rainha de todas as bruxarias. Lá vós deveis vos reunir, vós que estais ardorosos para aprender toda a feitiçaria, mas que ainda não aprendeis os seus segredos mais profundos; a estes eu vou ensinar aquilo que ainda é desconhecido. E vós deveis ser livres de toda servidão; e como sinal de que vós sois realmente livres, vós deveis apresentar-vos nus em seus ritos; e vós deveis dançar, cantar, comer, tocar música e fazer amor, tudo em meu louvor."

"Pois meu é o êxtase do espírito e minha é a alegria do mundo; pois a minha lei é o amor para todos os seres. Mantenhais puro vosso mais elevado ideal; empenhai-vos sempre na sua direção; não deixais nada parar-vos ou desviar-vos. Pois minha é a porta secreta que se abre sobre a Terra da Juventude e minha é a taça do vinho da vida e o Caldeirão de Cerridwen, que é o Graal Sagrado da imortalidade. Eu sou a Deusa Graciosa, que dá o presente da alegria para o coração do homem. Sobre a terra eu dou o conhecimento do espírito eterno; e além da morte, eu dou paz e liberdade e vos reuno com aqueles que partiram antes de vós. Eu não peço nada em sacrifício; pois eu sou a Mãe de tudo o que vive e meu amor recai por sobre a terra."

Ouçam vós as palavras da Deusa Estelar. Ela em cuja poeira dos pés estão as hostes do céu e cujo corpo circunda o Universo.

"Eu, que sou a beleza dos campos verdes, a Lua alva entre as estrelas, o mistério das águas e o desejo do coração do homem, chamo pelas vossas almas. Levantem-se e venham à mim. Pois eu sou o alma da natureza, que dá vida ao universo. De mim tudo vêm e a mim tudo deve retornar; e ante a minha face, amada pelos Deuses e pelos homens, deixe teu ser divino mais profundo se envolver pelo êxtase do infinito."

"Deixem meu culto acontecer na terra que se regozija; pois todos os atos de amor e prazer são meus rituais. E portanto deixem que haja beleza e força, poder e compaixão, honra e humildade, júbilo e reverência dentro de vós.

E aqueles que pensam em me procurar, saibam que a vossa busca e vosso anseio devem beneficiar-vos apenas se vós souberdes o mistério; se o que vós procurardes, vós não achardes dentro de vós mesmos, então nunca encontrarão fora. Pois eu tenho estado convosco desde o início e eu sou aquela que é alcançada ao final do desejo."

Por Doreen Valiente, 1957
Tradução: Quíron


"Levantando o Véu"

"Nos meus altares na juventude da Lacedaemon em Esparta faziam-se sacrifício a mim. Sempre que vós tiverdes quaisquer necessidades, uma vez ao mês, e melhor seria quando a lua estiver cheia, então vós deveis vos reunir em algum local secreto e adorar o meu espírito, eu que sou a Rainha de todas as bruxarias e magias."

"Lá vós deveis vos reunir, vós que estais ardorosos para aprender toda a feitiçaria, mas que ainda não aprendeis os seus segredos mais profundos; a estes eu vou ensinar aquilo que ainda é desconhecido."

"E vós deveis ser livres de toda servidão; e como sinal de que vós sois realmente livres, vós deveis apresentar-vos nus em seus ritos, tanto os homens quanto as mulhers, e vós deveis dançar, cantar, comer, tocar música e fazer amor, tudo em meu louvor."

"Há uma Porta Secreta eu criei para construir um caminho para provar mesmo na terra o elixir da imortalidade. Diga, 'deixe o êxtase ser meu e alegria na terra mesmo ser minha, Minha'. Pois eu sou a Deusa graciosa. Eu dou prazeres inimagináveis na terra, certeza, não fé, ainda em vida! E após a morte, paz inexprimível, descanso e êxtase, e eu não exijo nada em sacrifício."

"Ouçam vós as palavras da Deusa Estelar."

"Eu vos amo: eu sinto a vossa falta: pálidos ou corados, velados ou voluptuosos."

"Eu, que sou toda prazer e embriaguês dos sentidos mais secretos, vos desejo. Vistam as vossas asas, acordem o esplendor reprimido dentro de vós."

"Venham a mim, pois eu sou a chama que queima no coração de cada homem e o centro de cada Estrela."

"Deixem que seja o seu self divino mais profundo ser o que permanece absorto em êxtase de gozo eterno."

"Deixem que os rituais executados corretamente com alegria e beleza. Lembrem que todos os atos de amor e prazer são meus rituais. Então deixe haver beleza e força, riso solto, força e fogo dentro de vós."

"E se vós dissereis 'eu rumei em tua direção e isso não me beneficiou', seria melhor vós que vós dissestes 'eu chamei por ti e esperei pacientimente e tu estivestes comigo desde o começo', pois aqueles que sempre me desejaram devem sempre me alcançar, mesmo ao fim do desejo"

Por Gerald Gardner, 1949
Tradução: Quíron


"A Carga do Deus"

Ouça as palavras do Velho Cornífero que é sempre jovem....
"Eu sou aquele que abre as portas da vida e da morte, os portais da aurora e os portais da noite. Eu sou Kernunnos e Silvanus e Pan, e a música da minha flauta está no ar nas verdes florestas e nas colinas de verão."

"Minha voz está no vento da meia-noite e embaixo das estrelas ela pronuncia as palavras de magia em línguas ancestrais, esquecidas ou desconhecidas. Eu inspiro o pânico, o medo e o desejo passional. E apesar de eu mostrar a face de um crânio, não haveria a manifestação da vida sem mim, pois sem morte não pode haver renascimento. A vida deve sempre subir em espirais, não pode parar."

"Nós não podemos conhecer a luz sem as sombras, nem as sombras sem a vida. Portanto, não me tema , sob nenhum aspecto que você me veja: a força e poder da masculinidade ou aquele que traz paz na morte. Eu sou Lúcifer, o que traz a luz, e Amoun, o Escondido, que usava os chifres espirais do carneiro na antiga Khem."

"Eu sou o Deus de pés de bode dos bosques iluminados pelo som da Tessália, a presença que era sentida na escuridão das cavernas sagradas e na pedra fixa sobre a urze. Eu sou o poder arrebatador da Vida e aquele que traz a luz: mas sem Amor eu não posso criar nada que perdure."

"Então eu preciso da Deusa, assim como ela precisa de mim, e no Grande Casamento Sagrado, o Êxtase Cósmico, nós somos um. Então, cultue a minha selvageria, conheça-me e regozije-se comigo, irmãos e irmãs da Arte Mágica, bruxas e bruxos, pagãos e bárbaros. Pois eu trago o poder e a liberação, liberdade de espírito que é verdadeira e eterna, que ninguém pode negar a você eternamente."

Por Doreen Valiente,
Véspera Samhaim, 1997.
Tradução: Quíron


"O Chamado do Deus das Sombras"

Também não tradicional, mas também muito belo, inspirado e inspirador, este texto apresenta um lado mais "tenebroso" do nosso querido Deus Corífero.

Ouça você as palavras do Senhor das Sombras, Aquele que desde os tempos antigos é chamado entre os homens de Anúbis, Hades, Arawyn, Plutão, Charon, Herne, Gwyn ap Nudd e muitos outros nomes:

"Eu sou a Sombra do dia claro; Eu sou o que lembra da mortalidade no auge da vida. Eu sou o véu sem fim da Noite onde a Deusa Estelar dança. Eu sou a Morte que PRECISA existir para que a vida continue. Pois eis que a Vida é Imortal e o que é vivo deve morrer."

"Eu sou a Força que protege, que impõe limites; Eu sou o Poder que diz: Não, e nada mais, e basta. Eu sou o que não pode ser dito e Eu sou o que ri na beira da Morte."

"Venha comigo para a aconchegante e envolvente escuridão; sinta meus afagos nas mãos, na boca, no corpo daquele que você ama e seja transformado."

"Reúnam-se em noites sem lua e falem em línguas desconhecidas; a Grande Mãe e Eu vamos escutá-los. Cante para nós, gritem e o poder será seu para exercê-lo."

"Sopre-Me um beijo quando o céu estiver negro e Eu sorrirei. Mas não haverá um outro beijo em troca, com toda a certeza! Meu beijo é o último para toda a carne mortal."

Autor: "através" de Christopher Hatton.
Tradução: Quíron


"A Lei Wiccaniana"

Deves seguir às Leis Wiccanianas
Em Perfeito amor e perfeita confiança
Deves viver e deixar viver,
Com justiça tomar e com justiça ceder.
Pois o círculo, três vezes traçado,
Mantém o espírito indesejável afastado.
Para que o encantamento seja eficaz
Em verso deve-lo sempre recitar.
Sê de olhar suave e toque leve
Fale pouco e ouça o que deve.
Em Sentido horário caminhe na Crescente,
Entoando assim o seu canto pungente.
Quando a Lua da Dama está a crescer
Beijar duas vezes sua mão é um dever.
Quando a Lua atinge seu apogeu,
Deves seguir o objetivo de teu coração.
Sinta o poder do vento norte que corta,
Amarre as velas, tranque a tua porta.
Quando sopra do Sul o vento benfasejo,
O amor em tua boca lançará um beijo.
Se o Vento sopra oriundo do Poente,
Traz novidade então festeja contente.
Nove lenhas ardem sob o caldeirão,
Queimam rápido ou com lentidão.
Mas o Sabugueiro é a Árvore da Senhora,
Não a queime, ou o castigo não demora!
Quando a Roda se põe a girar,
Logo os Fogos de Beltaine vão queimar.
E quando girar, e o Yule chegar,
É hora de por a tronco do Cornífero a queimar.
Vê a árvore, o arbusto e a flor,
Da Senhora recebam bênçãos e amor.
No rio onde a água corre em liberdade,
Lança uma pedra e conhecerás a verdade.
Quando em tuas mãos a semente noviça,
Não te importes com quem a cobiça.
Com o tolo não deves andar,
Nem como amigo dele deves figurar.
Feliz encontro e feliz partida,
Iluminam o rosto, o coração e a vida.
Respeitar sempre a Lei Tríplice deves
Pois três vezes o que mandas é o que recebes.
Quando envolvido por algum desgosto,
Leva a estrela sobre teu rosto.
Em verdadeiro amor deves sempre estar,
Se teu amor jamais fraquejar.
Estas oito palavras da Lei Wiccanianan deves respeitar:
Se mal nenhum causar, faze o que desejar.

Farrar/Bone 1997 /
Tradução: Claudio Crow Quintino 2001


"O Canto dos Bruxos"

Este belo texto de autoria de Doreen Valiente, também conhecido com "A Runa das Bruxas", traduzido por Claudio Crow Quintino e publicado no livro Os Mistérios Wiccanos é um poema/invocação que pode ser declamado no ritual de abertura de esbás e sabás, antes de começar o trabalho de magia. Como você verá, pelos seus dizeres, ele invoca forças para nos auxiliar nos rituais e feitiços.

Obscura noite e Lua brilhante,
Atenda à Runa das Bruxas,
Leste e sul, oeste e norte,
Ouça! Venha! Eu vos chamo!

Pelas forças de terra e mar,
obedeça-me.
Bastão e Pentáculo e Espada,
Atendem às minhas palavras.

Cordas e incensos, Chicote e Punhal,
Despertem todos para a vida.
Poderes da Lâmina dos Bruxos,
Atendam ao chamado feito.

Rainha dos Céus, Rainha do Inferno,
Envie seu auxílio ao encantamento.
Caçador galhado da Noite,
realize meu pedido por força de rito mágico.

Pelas forças de terra e mar,
Enquanto digo "assim seja".
Por todo o poder da lua e sol,
Realize-se o meu desejo.

"O Chamado da Deusa Negra"
Embora não seja um texto tradicional da Wicca, é interessante que a Carga da Deusa Negra seja conhecida. É um texto interessantíssimo que pode ser lido nos rituais de lua negra. A Deusa Negra fala conosco pelas bocas de Kali, Tiamat, Hekate, Nix, A Madonna Negra, Nêmesis, Morrigan, Cerridwen, Perséfone, Ereskhigal, Arianrhod, Durga, Inanna e muitas outras.

Eu sou as trevas por trás e por baixo das sombras.
Eu sou a ausência de ar que espera no início de cada respiração.
Eu sou o fim antes que a vida recomece, a deterioração que fertiliza o que vive.
Eu sou o poço sem fundo, o esforço sem fim para reivindicar o que é negado.
Eu sou a chave que destranca todas as portas.
Eu sou a glória da descoberta, pois eu sou o que está escondido, segregado e proibido.
Venha a mim na Lua Negra e veja o que não pode ser visto, encare o terror que é só seu.
Nade até mim através dos mais negros oceanos, até o centro de seus maiores medos. Eu e o Deus das trevas o manteremos em segurança.
Grite para nós em terror e seu será o poder de suportar o insuportável.
Pense em mim quando sentir prazer e eu o intensificarei. Até o dia em que eu terei o maior prazer de encontrá-lo na encruzilhada entre os mundos.
Sabedoria e a capacidade de dar poderes são os meus presentes.
Ouça-me, criança, e conheça-me por quem eu sou. Eu tenho estado com você desde o seu nascimento e ficarei com você até que você retorne a mim no crepúsculo final.
Eu sou a amante apaixonada e sedutora que inspira o poeta a sonhar.
Eu sou aquela que te chama ao fim de sua jornada. Quando o dia se vai, minhas crianças encontram seu descanso abençoado em meus braços.
Eu sou o útero do qual todas as coisas nascem.
Eu sou o sombrio, silencioso túmulo; todas as coisas devem vir a mim e suportar a morte e o renascer para o todo.
Eu sou a Bruxa que não será governada, a tecelã do tempo, a professora dos mistérios.
Eu corto as linhas que trazem minhas crianças até mim. Eu corto as gargantas dos cruéis e bebo o sangue daqueles sem coração. Engula seu medo e venha até mim, e você descobrirá a verdadeira beleza, força e coragem.
Eu sou a fúria que dilacera a carne da injustiça.
Eu sou a forja incandescente que transforma seus demônios internos em ferramentas de poder. Abra-se a meu abraço e domínio.
Eu sou a espada resplandescente que te protege do mal.
Eu sou o cadinho no qual todos os seus aspectos se misturam em um arco-íris de união.
Eu sou as profundezas aveludadas do céu noturno, as brumas rodopiantes da meia-noite, coberta de mistério.
Eu sou a crisálida na qual você irá encarar o que te apavora e da qual você irá florescer vibrante e renovada.
Procure por mim nas encruzilhadas e você será transformada, pois uma vez que você olhe para meu rosto não existe volta.
Eu sou o fogo que beija as algemas e as leva embora.
Eu sou o caldeirão no qual todos os opostos crescem para se conhecer de verdade.
Eu sou a teia que conecta todas as coisas.
Eu sou a curadora de todas as feridas, a guerreira que corrije todos os erros a seu tempo.
Eu faço o fraco forte. Eu faço humilde o arrogante. Eu ergo o oprimido e dou poderes ao desprivilegiado. Eu sou a justiça temperada com compaixão.
Eu sou você, eu sou parte de você, estou dentro de você.
Me procure dentro e fora e você será forte. Conheça-me, aventure-se nas trevas para que você possa acordar com equilíbrio, iluminação e plenitude.
Leve meu amor consigo a toda parte e encontre o poder interior para ser quem você quiser.

 

 
   
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